Vice-presidente do "Bureau da COP" argumenta que os valores estão "200 a 400% acima do subsídio diário de subsistência da ONU" e "não são viáveis"
Manoela Carlucci | CNN, São Paulo
O representante do Panamá no "Bureu da COP" do corpo climático da ONU (Organização das Nações Unidas) publicou nas redes sociais o discurso que proferiu após o encontro do grupo.
![]() |
Belém, capital do Pará, cidade-sede da COP30 • Reprodução |
Em sua fala, proferiu duras críticas ao aumento de preço das hospedagens para a COP30, que acontecerá em Belém, em novembro deste ano.
"Estou totalmente surpreso e, sinceramente, confuso, pois pela terceira vez neste Bureau, todas as regiões do mundo falaram a uma só voz à Presidência brasileira, mas parece que nossas palavras entram por um ouvido e saem pelo outro. Parece que estamos vivendo em uma realidade alternativa cada vez que participamos dessas reuniões. Além disso, nosso tempo está sendo desperdiçado e estamos sendo tratados como tolos", escreveu Juan Carlos Monterrey, que também é vice-presidente do Bureau.
Na nota, ele diz que solicitou ao secretariado do grupo, que forneça orientações formais por escrito "sobre alternativas e processos para que" possam solicitar à Presidência da COP30, a mudança da cidade que vai sediar o evento.
"Não podemos sediar uma COP em condições que excluem a participação e violam os princípios fundamentais do multilateralismo", continuou.
"Mais de 70% das delegações não reservaram acomodações. Esse único número diz tudo: os arranjos atuais são impossíveis. As opções estão 200 a 400% acima do subsídio diário de subsistência da ONU e simplesmente não são viáveis".
"Viemos aqui para construir confiança e soluções. Em vez disso, estamos recebendo desculpas e absurdos", concluiu.
Em nota, a Secretaria de Comunicação Social da Presidência da COP30 e da Presidência da República, informaram que o governo brasileiro reitera que o evento ocorrerá em Belém e que a cidade estará "pronta para acolher os participantes desta importante Conferência".
"Na reunião de sexta-feira (22/8) com o Bureau da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), pudemos mostrar que todas as condições logísticas, de infraestrutura e de segurança estão asseguradas para a realização da COP30", disseram.
"Belém possui capacidade de hospedagem para a realização do evento, com uma oferta total de 53 mil leitos, 33 mil quartos, distribuídos em diferentes categorias (incluindo hotéis, imóveis privados cadastrados e regulamentados, dois navios internacionais de grande porte e acomodações específicas voltadas para povos indígenas, juventude e sociedade civil, garantindo diversidade, acessibilidade e previsibilidade para todas as delegações e perfis de público)", prosseguiram.
"Por fim, o Brasil já está fazendo esforço inédito e significativo de investimento para viabilizar a COP30 na Amazônia, com garantias de infraestrutura, logística e hospedagem inclusiva", finalizaram.
Preços altos
As reclamações acerca dos valores das hospedagens para COP30 não começaram agora. No início do mês, por exemplo, a secretária do clima da ONU realizou uma reunião de emergência para tratar do assunto.Países em desenvolvimento já alertaram que não poderão arcar com os preços das acomodações na cidade.
Até o momento, 47 países de uma lista de mais de 190 confirmaram presença. As delegações realizaram pagamento das reservas de hospedagem, sendo 39 por meio da plataforma oficial e oito negociadas diretamente com a rede hoteleira ou outras plataformas.
Essas informações foram divulgadas após uma reunião com o Bureau, na qual alguns países apresentaram questionamentos sobre a organização para a conferência global.
Um dos pontos apresentados foi a solicitação de pagamento de um subsídio brasileiro para hospedagem das delegações, mas a secretária-executiva da Casa Civil da Presidência da República, Miriam Belchior, descartou a possibilidade.
"O governo brasileiro já está arcando com custos significativos para a realização da COP, então, por isso, não há como subsidiar delegações de países e, inclusive, delegações de países que são mais ricos que o Brasil", disse.