Renovável é mesmo renovável?

Cientista sugere que não

Planeta Sustentável

Ao olharmos para um furacão, ou uma tempestade no mar, fica difícil acreditar que humanos possam alterar as impressionantes forças naturais que os criaram. Mas esta é a sugestão provocadora de um físico que andou fazendo algumas contas. Ele concluiu que é um erro assumir que fontes de energia como vento e ondas são verdadeiramente renováveis. Se construirmos fazendas eólicas suficientes para substituir os combustíveis fósseis, podemos estar causando uma séria depleção da energia disponível na atmosfera, com consequências tão severas quanto a mudança do clima.

Axel Kleidon, do Instituto Max Planck de Biogeoquímica de Jena, Alemanha, diz que os esforços para satisfazer uma grande proporção de nossa demanda de energia com vento e ondas irão consumir parcelas significativas da energia disponível do sol. Na verdade, diz ele, estaremos causando a depleção de fontes de energia verdes. Sua lógica reside nas leis da termodinâmica, que apontam inescapavelmente para o fato de que apenas uma fração da energia solar que chega à Terra pode ser explorada para gerar a energia que usamos. 

Quando a energia do sol alcança nossa atmosfera, parte dela move ventos e correntes oceânicas, e evapora água do solo, elevando-a às alturas. Grande parte do resto se dissipa como calor, que não podemos aproveitar. No momento, os humanos usam apenas uma parte em 10000 do total de energia que chega ao planeta vinda do sol. Mas esta proporção é enganosa, diz Kleidon. Deveríamos, em vez disso, estar pensando em quanta energia utilizável (ou "livre", no jargão da física) está disponível no sistema global, e qual o nosso impacto sobre ela.

Atualmente, os humanos usam energia a uma taxa de 47 terawatts (TW), ou trilhões de watts, grande parte dela vinda da queima de combustíveis fósseis e de biomassa, calcula Kleidon, num estudo que será publicado pelo Philosophical Transactions of the Royal Society. Isto corresponde aproximadamente a 5% ou 10% da energia livre gerada pelo sistema global. "É difícil colocar um número preciso nesta fração, mas certamente usamos mais energia livre que todos os processos geológicos. Em outras palavras, temos um efeito maior sobre o equilíbrio energético da Terra do que todos os terremotos, vulcões e movimentos de placas tectônicas juntos".

A tese parece radical, mas está sendo levada a sério. "Kleidon está na linha de frente de uma nova onda de pesquisas, e seu valor potencial é enorme", diz Peter Cox, que estuda as dinâmicas de sistemas do clima na Universidade de Exeter, na Inglaterra. "Uma teoria da termodinâmica da Terra poderia nos ajudar a entender as restrições ao uso sustentável de recursos pela humanidade." Na verdade, os cálculos de Kleidon têm profundas implicações para nossas tentativas de alterar nosso suprimento energético.

Dos 47 TW de energia que usamos, cerca de 17 TW são da queima de combustíveis fósseis. Assim, para substituirmos isso, teríamos de construir usinas de energia sustentável que gerem a mesma energia. Já que nenhuma tecnologia pode ser perfeitamente eficiente, parte desta energia livre aproveitada por vento e ondas ficará perdida como calor. Assim, a instalação de fazendas eólicas e de aproveitamento de ondas estarão convertendo parte da energia utilizável do sol em calor inutilizável.

"A exploração em grande escala de energia eólica deixará inevitavelmente uma marca na atmosfera. E como usamos tanta energia livre, cada vez mais, estamos esgotando o reservatório de energia", diz Kleidon. "É um ponto de vista intrigante e potencialmente muito importante", diz o meteorologista
Maarten Ambaum, da Universidade de Reading, segundo a New Scientist. "O consumo de energia pelos humanos é substancial quando comparado à produção de energia livre pelo sistema da Terra. Se não pensarmos em termos de energia livre, estaremos um tanto enganados quanto ao potencial de utilização de recursos naturais de energia".

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