''Maré de corpos'' chega à costa

Cerca de 2 mil cadáveres são encontrados no litoral da Província de Miyagi; número final de mortos na tragédia japonesa deve ultrapassar 10 mil

Cláudia Trevisan - O Estado de S.Paulo

 

Dois mil corpos foram encontrados ontem em praias da Província de Miyagi, uma das mais afetadas pelo devastador terremoto seguido de tsunami, que atingiu a costa nordeste do Japão na sextafeira.
 
O número oficial de mortos e desaparecidos se aproxima de 5 mil, mas deverá ultrapassar os 10 mil, à medida que as equipes de resgate cheguem aos locais mais isolados.

 
Em Miyagi, após a chegada de uma maré de corpos, todos os crematórios ficaram lotados e faltaram sacos para guardar os restos mortais das vítimas. Eles foram localizados em dois trechos do litoral: mil mortos apareceram na costa de Minami-Sanrikucho, enquanto outros mil foram descobertos na Península de Ojika, em Ishinomaki.

 
No momento em que os cadáveres foram encontrados, o número oficial de mortos era de quase 2 mil. O chefe de polícia de Miyagi, Naoto Takeuchi, teme que mais de 10 mil tenham morrido na região.

 
"A situação é fora do comum. É muito provável que os crematórios estejam operando além de sua capacidade", afirmou Yukio Okuda, do Ministério da Saúde japonês, antes de anunciar a suspensão da regra que exige autorizações para cremações e enterros. "É uma medida de emergência. Queremos ajudar as vítimas como pudermos."

 
Alerta. Hachinohe, na Província de Aomori, está no extremo norte do litoral do Japão. Na cidade, o alerta de tsunami chegou a tempo de a população que vive nas proximidades do mar se abrigar em terreno mais alto e assistir à chegada das gigantescas ondas criadas pelo terremoto.

 
A comerciante Fukue Kakuchi trabalhava com a família no pequeno restaurante que possui no porto de Hachinohe quando carros da polícia com alto-falantes passaram na rua com o alerta de tsunami.

 
Em menos de dez minutos, todos estavam em uma pequena colina, com outros moradores da área portuária.

 
De lá, eles assistiram aterrorizados à chegada das ondas que arrastaram barcos, casas e inundaram plantações. Munidos de pás, Fukue, o marido e outros parentes retiravam ontem do pequeno restaurante a lama arrastada pelas ondas.

 
A água ocupou todo o primeiro andar do sobrado, mas a família Kakuchi não foi tão castigada. 


Outras casas de madeira foram arrastadas pela água e pararam no meio de ruas ou no mar.
 
Na prefeitura de Hachinohe, foi montado um centro de operações de resgate, no qual militares e funcionários civis monitoram a situação na região.


Milhões de japoneses passaram a enfrentar ontem cortes temporários de eletricidade, como parte do esforço do governo de racionar energia e evitar um apagão generalizado.

 
Os 55 reatores nucleares do Japão respondem por pouco mais de um terço da energia gerada no país. Com as panes provocadas pelo desastre duplo, de terremoto seguido de tsunami, 11 deles apresentaram problemas, o que comprometeu 20% da oferta de energia nuclear.

 
Rodízio. O racionamento ficará em vigor até 8 de abril e deverá atingir 45 milhões de japoneses.
 

A medida também será aplicada a empresas e a alguns serviços, como trens. O país foi dividido em diferentes áreas, cada uma das quais ficará sem energia por um período de 3 a 6 horas diárias, em um esquema de rodízio.

COM AGÊNCIAS

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