Enchente nunca mais

Na cidade de Itajubá (MG), um sistema criado por universitários monitora as chuvas e prevê inundações com 3 horas de antecedência

Kátia Arima
Revista Info Exame

No dia 12 de janeiro, Nilton Gonçalves de Almeida, diretor da defesa civil da cidade mineira de Itajubá, recebeu de madrugada uma ligação importante pelo celular. Do outro lado da linha, um pesquisador da Universidade Federal de Itajubá (Unifei) dava um aviso: a Avenida BPS, no bairro de Pinheirinho, iria alagar nas próximas horas, pois o nível do Ribeirão José Pereira iria subir.

Imediatamente, Almeida acionou a Polícia Militar, o Exército, veículos de comunicação e todas as secretarias municipais envolvidas. As equipes tiveram duas horas para tomar providências antes da inundação. “Deu tempo de remover a maioria dos carros que estavam na região de risco e avisar os moradores. Algumas casas foram invadidas pela água. Perdas materiais aconteceram. Mas, dos males, o menor”, diz Almeida. Para que as autoridades de Itajubá recebam esse tipo de aviso com antecedência, dez pesquisadores da Unifei trabalham duro. Eles mantêm o sistema de monitoramento de enchentes, que funciona 24 horas. “É um sistema muito confiável, que nos dá tranquilidade”, diz Almeida. Antes de usar a tecnologia, a cidade sofria mais com as inundações.

Anos atrás, pessoas monitoravam o Rio Sapucaí, na sua parte alta, observando as réguas fixas que medem o nível da água. “Estamos numa região em que vários rios deságuam. O problema é agravado pela ocupação desordenada em áreas de várzea e pelo tipo de pastagem da região, que impermeabiliza o solo”, diz Almeida. O professor Rodrigo de Paula Rodrigues, um dos responsáveis pelo sistema, conta que a tecnologia adotada ajuda a atenuar o problema, mas não o soluciona. “Para resolver, é preciso criar soluções estruturais, como barragens”, diz.

A equipe multidisciplinar que cuida do sistema é formada por professores, graduandos e alunos de doutorado, com especialistas em engenharia elétrica, engenharia eletrônica, engenharia ambiental, física e matemática. Em atividade desde 2004, o sistema da Unifei, desenvolvido em parceria com a Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa), recebeu recentemente seis novas estações de telemetria para coleta de dados pluviométricos e de nível do rio. Com isso, alagamentos como o ocorrido no dia 12 de janeiro no Ribeirão José Pereira poderão ser previstos com mais antecedência.

Ao todo, são 18 estações ao longo de afluentes do Rio Sapucaí, espalhadas pelas cidades de Itajubá, Piranguinho, Santa Rita do Sapucaí e Pouso Alegre. Para saber se o nível do rio está alto, uma das ferramentas utilizadas na estação telemétrica é um sensor ultrassônico instalado na parte inferior das pontes. Esse sensor emite uma onda sonora que bate na superfície da água e retorna, para fazer a medição de distância. As informações coletadas são enviadas continuamente, pela rede de dados de celular, para a central de monitoramento, em Itajubá. Quando níveis de segurança são ultrapassados, os computadores da central enviam o alarme para os pesquisadores, que entram em cena. “Usamos modelos matemáticos de escoamento. Se choveu quantidade “x” em tal ponto, sabemos que isso vai representar “y” lá na frente”, diz Rodrigues.  

Os pesquisadores da Unifei também fazem um estudo físico, com um mapa 3D e um modelo de escoamento de água para prever as inundações. A central de monitoramento usa um laptop com Intel Core 2 Duo. As manchas de inundação, definidas no mapa 3D, são trabalhadas numa máquina com quarto núcleos. A Copasa investiu 900 000 reais no projeto, valor que cobre as despesas do sistema até o final de 2014.

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