Philip Fearnside estuda problemas ambientais na Amazônia brasileira há quase 40 anos e é autor de projeto de valoração de serviços ambientais na floresta amazônica
Elaíze Farias - A Crítica
Ao ser transformada na principal geradora de energia do país devido à seu potencial hídrico, a Amazônia corre risco de sofrer impactos ambientais e sociais incalculáveis.
Em entrevista ao portal acritica.com, o cientista Philip Fearnside, alerta para a publicidade do discurso governamental de que a energia fornecida pelas usinas vai favorecer a população.
“A energia de Belo Monte, por exemplo, não é para o cidadão, sua casa, sua televisão. É para abastecer as grandes empresas do alumínio visando a exportação, a maioria delas multinacionais. Os benefícios vão para o exterior, mas os danos ficarão com o Brasil”, disse Fearnside, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e um dos mais reconhecidos cientistas do país e um dos mais citados no mundo.
Segundo o cientista, defensores do projeto de ampliação hidrelétricas pouco comentam a respeito dos danos provocados pela construção destas usinas, como invasão de áreas ribeirinhas, indígenas e unidades de conservação.
Amazonas
Em entrevista ao acritica.com, Fearnside alertou para o plano de expansão de produção de energia, que prevê a construção de, pelo menos, 13 usinas hidrelétricas na região do rio Tapajós. Estas afetariam não apenas o Estado do Pará, mas também o Amazonas.
“O rio Tapajós é a prioridade do governo. Serão 13 barragens de uma só vez. Isto envolve também impactos no Estado do Amazonas, cuja bacia também vai ser inundada. No Tapajós, vai atingir as populações indígenas, sobretudo os munduruku, e aumentar o efeito estufa, que gera o metano. “Essas hidrelétricas podem ter ainda um impacto pior do que Belo Monte”, alertou Fearnside.
De acordo com um estudo elaborado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), as futuras hidrelétricas construídas na Amazônia vão alagar 4,89 mil quilômetros quadrados de vegetação na região, muitas delas localizadas em unidades protegidas, áreas responsáveis pela preservação dos biomas.
Belo Monte
Philip Fearnside chama de “ilegal, injusta e loucura” do ponto de vista dos interesses do país a criação da hidrelétrica de Belo Monte, no Pará.
“Belo Monte, do ponto de vista econômico, não faz sentido. O rio Xingu é muito variado em termos de quantidade água. Não tem água suficiente durante quatro meses para tocar uma única turbina. A teoria do governo é que, quando faltar energia nas usinas do Sul, tem em Belo Monte. Mas o que está fazendo é criar justificativas para fazer mais termoelétricas e uma boa parte delas é para a fabricação de lingotes de alumínio”, disse o cientista.
Fearnside lembrou que muitas empresas favorecidas pela geração de energia vinda de Belo Monte são multinacionais, com sede em países como Japão e China.
“O resto do mundo não quer mais fazer hidrelétrica. É um impacto muito grande. Então, é melhor colocar no Brasil. O Brasil está perdendo benefícios e ficará com todos os impactos”, analisou.
Fearnside também chamou de “mentira institucionalizada” o cenário que aponta a construção de apenas uma hidrelétrica no rio Xingu.
“É uma obra de ficção. O plano original era para que fossem seis hidrelétricas. Hoje são quatro, mas ainda assim vão invadir florestas tropicais, comunidades ribeirinhas e áreas indígenas”, disse.