Conhecida como "Suíça brasileira", Campos do Jordão vai, enfim, tratar esgoto

JOSÉ BENEDITO DA SILVA
ENVIADO ESPECIAL A CAMPOS DO JORDÃO - Folha de SP

Cidade turística associada à sofisticação, Campos do Jordão joga seu esgoto sem tratar nos córregos da cidade 

Governo dá início a nova tentativa de construir estação de tratamento 15 anos depois de ver um projeto ser barrado

Cidade turística que associou seu nome à sofisticação - visitantes de alta renda, marcas de luxo que lá se instalam durante a temporada e hotéis com diárias acima de R$ 1.300 -, Campos do Jordão, a "Suíça brasileira", vai, enfim, deixar de jogar esgoto sem tratamento no rio.
 
No dia 23, o governo de SP leva a audiência pública um projeto de R$ 90,2 milhões para construir um sistema de tratamento de esgoto que poupe os rios da área urbana, cuja qualidade das águas varia hoje de regular a péssima.

 
Em Campos, 44% do esgoto é coletado e nada é tratado. Tudo que é coletado é jogado em rios como Sapucaí-Guaçu, Perdizes e Capivari - os dois últimos abraçam o Capivari, bairro que reúne a alta badalação de inverno.

 
Os índices nem de longe lembram os da Suíça original, segunda colocada mundial no Índice de Desempenho Ambiental, criado pelas universidades norte-americanas de Columbia e Yale.

 
Há um agravante: em Campos, muito além das luxuosas casas de temporada, dos hotéis cinco estrelas e da residência de inverno do governador, há dez áreas protegidas, entre elas o Parque Estadual de Campos do Jordão.

TURISMO

 
Sua riqueza ambiental em contraste com a falta de saneamento não chega a ser exceção: é o mesmo quadro de cidades como Florianópolis (no Sul), Natal (no Nordeste) e Ubatuba (litoral paulista).

 
"Essa obra já demorou muito. Quando o sol está quente e é temporada, o mau cheiro fica muito pior", reclama Jair Pereira de Macedo, 54, dono de uma padaria na região do Capivari. Na temporada, a cidade, de 46 mil habitantes, recebe 500 mil visitantes em um mês. "Turista não gosta disso", sentencia.

 
"Os rios estão sujos. Saí do restaurante e senti o mau cheiro", concorda a aposentada Adelaide Maria Nitrini Martins, 60, que visitava a cidade na última quarta-feira.

HISTÓRICO

 
Desde que a Sabesp assumiu o serviço local, em 1976, o projeto era tido como prioritário, principalmente pela importância estratégica de Campos em relação ao patrimônio ecológico do entorno.

 
Avançou devagar e sofreu um duro golpe em 1995, quando um projeto já licenciado, com terreno comprado pela Sabesp, foi cancelado sob protestos dos moradores contrários à construção da estação na Lagoinha.

 
Pode haver resistência de novo. A cinco quilômetros da área urbana, o local da nova estação fica em região de condomínios de casas de alto padrão, majoritariamente para uso na temporada.

 
A primeira etapa do sistema - cujas obras vão durar de 2011 a 2013 - devem elevar o índice de tratamento a 70% do esgoto coletado. O projeto em discussão não prevê a expansão do sistema de coleta.

 
Parte dos imóveis do município dispõe o esgoto em fossas (cavidades no solo).

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