Modelo permite prever derrubadas

Técnica criada pela UnB indica com 70% de certeza as áreas onde ocorrerão desmatamentos



DA REDAÇÃO

Uma nova técnica de análise baseada nas características biofísicas da floresta e nas estatísticas de desmatamentos permite estimar, com mais de 70% de acerto, os locais onde ocorrerão as próximas derrubadas de árvores na Amazônia. O modelo de Análise Multivariada Aplicada a Zoneamento para Predição de Desmatamento (Amazon-PD) foi formulado, testado e validado em uma tese de doutorado no Centro de Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Brasília (UnB).

Dados como localização das árvores remanescentes, inclinação do solo, proximidade com hidrovias, entre outras dezenas de variáveis, foram confrontados com as imagens de clareiras capturadas por meio do sensoriamento remoto entre 1985 e 2004. Daí foi possível checar as características que mais influenciavam no desmatamento para criar um programa capaz de estimar, com base nesses dados, onde ocorrerão os próximos desmatamentos.

- Árvores mais próximas dos clarões têm mais chances de serem derrubadas primeiro. Da mesma forma, aquelas que ficam próximas de rodovias e hidrovias também caem antes. Isso se explica pela facilidade de acesso - exemplifica Darcton Policarpo Damião, autor da pesquisa, que também é mestre em sensoriamento remoto.

Tora não tem alça

No estudo, ele também mostra que quanto mais plano for o terreno, mais fácil de ocorrerem derrubadas.

- Tora não tem alça, dificilmente um sujeito vai se animar a derrubar uma árvore num terreno acidentado - comenta.

A pesquisa

Uso de técnicas de análise multivariada para a predição de desmatamento na Amazônia: o modelo Amazon-PD foi orientada pelo professor Newton Moreira de Souza. Para a formulação do modelo, foram levantadas as relações existentes entre variáveis biofísicas identificadas em uma única imagem do Landsat (satélite para sensoriamento remoto), localizada no município de São Félix do Xingu (sul do Pará). A cena foi observada em seis datas espaçadas entre 1985 e 2004.

- Embora tenha sido aplicado a uma única cena de cerca de 34.000 km2 situada na Amazônia Oriental, pode-se dizer, com base em suas características conceituais, que o Amazon-PD é diretamente aplicável a outras regiões da Amazônia - afirma o especialista.

Mapa mostra evolução

Baseado nas variáveis e nos da- dos de evolução do desmatamento, Damião construiu um mapa que mostrou ano a ano as características mais propícias à destruição ambiental. Quando chegou ao ano 2000, em vez de confrontar as características biofísicas daquela área florestal aos dados já conhecidos sobre o desmatamento naquele ano, ele traçou uma projeção para até 2004. O resultado foi melhor que o esperado e mostrou um acerto em mais de 70%.

- Com base nas projeções será possível formular políticas públicas que permitam otimizar melhor os recursos governamentais voltados para inibir o desmatamento que ocorre em milhões de hectares por ano - afirma Damião.

No estudo, ele optou por não usar variáveis políticas e socioeconômicas para inferir as causas do desmatamento. Segundo ele, a opção pelo estudo da cobertura do solo e não de seu uso, que pode ter diferentes vertentes (extração madeireira, pecuária extensiva e agricultura, por exemplo) evita a adoção de variáveis de cunho socioeconômico para avaliar o desmatamento.

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