
Em uma aparente resposta à reportagem do diário norte-americano The New York Times - que provocou um debate sobre a internacionalização da Amazônia -, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem que o Brasil não abrirá mão da soberania sobre a área.
- O mundo precisa entender que a Amazônia brasileira tem dono. É o povo brasileiro, que são os índios, os seringueiros, os pescadores, mas também somos nós, que temos consciência que é preciso diminuir o desmatamento e as queimadas - afirmou Lula.
Na edição do dia 18 de maio, o correspondente no Brasil, Alexei Barrionuevo, escreveu que "um coro de líderes internacionais está declarando mais abertamente a Amazônia como parte de um patrimônio muito maior do que apenas das nações que dividem o seu território".
- É muito engraçado que países que são responsáveis por 70% da poluição do planeta agora fiquem de olho na Amazônia, como se fosse apenas nossa a responsabilidade de fazer o que eles não fizeram todos os anos passados - rebateu Lula.
Em um evento organizado para debater a economia brasileira, na sede do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), no Rio de Janeiro, Lula lembrou que 25 milhões de pessoas residem na Amazônia e defendeu o desenvolvimento de oportunidades de trabalho na região, como antídoto para conter a degradação ambiental.
- Por que estas pessoas têm de ficar segregadas? Esse é um debate para as próximas duas décadas - projetou o presidente.
Lula não chegou a citar a reportagem do The New York Times, que tinha como título "De quem é esta floresta amazônica, afinal?". O presidente procurou mostrar que a questão ambiental é um desafio global e afirmou que o Protocolo de Kyoto - assinado para tentar reduzir a emissão de gases - "já faliu":
- Foi muito bonito assinar, maravilhoso, mas quem tinha que tomar medidas para cumpri-lo não referendou (em referência direta aos Estados Unidos).
Instituto adiou dados sobre desmatamento
Previstos para terem sido divulgados ontem, os dados sobre o desmatamento, medidos pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), não tem mais data para serem conhecidos.
Em meio ao tiroteio político entre o novo ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, e o govenador de Mato Grosso, Blairo Maggi, a direção do Inpe decidiu adiar, por tempo indeterminado, o anúncio de números que demonstrariam uma nova alta no desmatamento da Amazônia.
Na quarta-feira passada, Minc disse que o órgão divulgaria os dados ontem, na véspera de sua posse, apontando um aumento superior a 60% nas derrubadas em Mato Grosso. Maggi reagiu com novas críticas ao instituto, o que levou o diretor do Inpe, Gilberto Câmara, a suspender o anúncio, por temer o uso político.
Os dados foram registrados em abril pelo Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter) e estão prontos. No entanto, o Inpe decidiu não divulgá-los até que Minc combine o anúncio com o ministro de Ciência e Tecnologia, Sérgio Rezende.